Lembro que no quintal tinha muito mato e desses matos saiam cobras e lagartos. Acostumei-me tanto aqueles bichos que achava a cobra coral linda e a aranha caranguejeira, no mínimo curiosa.
Eu não tinha medo de quase nada, só dos assassinos que circulavam pelas ruas. Na época na cidade não existia polícia nem delegacia, mas pistoleiros haviam de montão. As histórias sobre uma nova execução sempre era proclamada de boca em boca pelos vizinhos.
A execução que mais me marcou foi quando um irmão matou o outro por ciúmes, deu-lhe várias facadas e jogou ele no matagal, o corpo só foi achado uma semana depois, pior que dias depois vi o tal assassino em frente minha casa, mamãe e papai trabalhavam fora, ficava em casa só eu e minha irmã mais velha que eu, ela tinha 6 anos e eu 4, corremos para dentro, trancamos as portas e ficamos lá, morrendo de medo.
Eu e a Telminha aprontávamos todas, tudo que mamãe dizia que não era para fazer a gente fazia, tudo que era perigoso a gente gostava. Acho que só estou viva porque tinha um anjinho muito atarefado que cuidava de mim.
Talvez pelos perigos ou por estar muito longe da família meus pais decidiram voltar para Mauá, cheguei em São Paulo aos 6 anos.
Nunca mais vi a Telminha vi, mas fiz novos amigos, e continuei aprontando todas, até hoje carrego algumas cicatrizes das minhas peraltices.
Minha irmã do meio agora tinha 8 anos a mais velha tinha 12 anos, era ela que tentava cuidar de mim. Fazia comida e me levava na escola.
Fato é que por ela ser também muito menina não via perigo nas coisas que a gente fazia. E era um tal de escalar morro, subir em lage, entrar nas tubulações(em construção) de esgoto da rua. As vizinhas me chamavam e pediam para eu não subir mais na lage porque era muito perigoso, eu fingia que não entendia e lá ia eu me aventurar.
Esse espírito aventureiro me acompanha até hoje, para desespero de minha mãe, já fiz rapel, já pulei amarrada por uma corda, já fiz rafiting, entrei em cachoiras onde a correnteza era forte e sei que tenho muitas outras emoções para ser vivida.
Encontrei nas poesias e contos uma maneira de extravasar toda essa minha inquietação. Aliás acho que só fico tranquila quando estou buscando inspiração para escrever.
